quinta-feira, 27 de março de 2008

domingo, 20 de maio de 2007

O amor romântico

"No amor romântico há uma permanente vinculação do amor à ideia da morte, muitas vezes à própria necessidade da morte. É como se uma fatalidade tivesse unido os personagens num amor que não deveria ter nascido entre eles, e que, portanto, teria que transcender esta vida. O amor romântico encontra na morte a sua mais pura forma de realização."
em "A Morte como transcendência em Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco", por Rosana Cássia Kamita
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domingo, 6 de maio de 2007

Nothing really matters


When I was very young
Nothing really mattered to me
But making myself happy
I was the only one

Now that I am grown
Everythings changed
Ill never be the same
Because of you

Chorus:
Nothing really matters
Love is all we need
Everything I give you
All comes back to me

Looking at my life
Its very clear to me
I lived so selfishly
I was the only one

I realize
That nobody wins
Something is ending
And something begins

(chorus, repeat)

Nothing takes the past away
Like the future
Nothing makes the darkness go
Like the light

Youre shelter from the storm
Give me comfort in your arms

(chorus, repeat and fade)

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Paredão

Cheguei em pleno período eleitoral. Madeira. Os lados da contenda abafam-se em ruído com vista a convencer o povo dos seus propósitos generosos.
Junto ao mar, longe do ruído, detive-me no paredão do Funchal. Nomes. Datas. Poemas. Provérbios. Declarações de amor eterno.
As eleições não chegaram ao paredão do Funchal. O Amor navega naquele paredão de tijolo e betão. Naquele momento, o Amor daqueles nomes abafou o ruído.
Percorro o paredão e a história de homens e mulheres (curiosamente só homens e mulheres) é-me revelada em datas e declarações de amor. Umas longas, outras muito curtas.
Detive-me numa história. Começou em 27 de Abril de 2005. Continuou em 27 de Abril de 2006. Pelo menos naquele paredão.
Em 27 de Abril de 2007, eu voltei lá mas eles não voltaram. Terá sido o fim? Esqueceram-se?
Em 28 de Abril de 2007 voltei esperando que afinal a história não tivesse tido um fim mas saí de lá sem uma data, sem uma continuação da história.
E vim-me embora a pensar: O Amor carrega em si a inevitabilidade do fim? Aquele Romeu e aquela Julieta “morreram”? O que é que une verdadeiramente as pessoas que se amam?

sexta-feira, 20 de abril de 2007

O meu Romeu e a minha Julieta

Eu conheci um Romeu e uma Julieta.
Um dia. Uma casa. Um quarto. Um homem. Uma mulher.
Um dia entrei no quarto desse homem e dessa mulher. E vi a imagem do Amor.
Dormiam. Os seus braços, de tão entrelaçados, pareciam cordas que forçavam os dois corpos a permanecer juntos.
Por cima deles, o medo. O medo da morte. A doença dele. A dor dela.
Um dia, revoltado com o fim da Beleza, lutei contra o tapete do meu quarto. E o fim aconteceu. O fim do meu Romeu e da minha Julieta.

domingo, 11 de março de 2007

Em 50 anos, nunca vi a Mercedes chorar

em Diário de Notícias, 25 Outubro de 2006
II Parte


Oriol Domènec segura com as duas mãos um caderninho envelhecido, como quem pega numa preciosidade. No seu interior, há folhas e folhas com letras desenhadas. "M" e "O". De Mercedes e Oriol. "E" e "D". De Elizalde e Domènec. Página ante página ante página. Desenhar letras não era proibido no reformatório onde Mercedes viveu durante quase dois anos, já casada com Oriol, mas ainda menor (tinha 23 anos e a maioridade em Espanha só se atingia aos 25 anos).

O pai dela, Salvador Elizalde, depois de tudo fazer para separar a filha do jovem revolucionário catalão, tentou ainda um último recurso. Trancada primeiro num convento e depois numa instituição para prostitutas e mulheres sem rumo, Mercedes ocupava o tempo a desenhar as iniciais do seu nome, lado a lado com as iniciais do nome do seu grande amor. Era a proximidade que lhe restava.

Estamos no consultório de Oriol Domènec, em Barcelona. Mais precisamente na Avenida Diagonal, uma das principais - e mais ricas - artérias da cidade. A porta do prédio revela a imponência que o interior do consultório confirma. O jovem médico odiado pela família de Mercedes tornou- -se um otorrinolaringologista de prestígio e de renome. Uma verdadeira bofetada de luva branca em quem julgou que casava com Mercedes motivado pela fortuna do pai. Nunca precisaram da herança que ela nunca recebeu.

Oriol Domènec tem hoje 83 anos e continua a fazer intervenções cirúrgicas diariamente. Sobe e desce escadas em passo rápido, caminha com pressa, fala com ânimo e sem nunca perder o fôlego. Tem guardadas todas as cartas que ela lhe escreveu, desde que se conheceram, em 1952. E lembra-se de todos os detalhes da aventura de ambos com uma nitidez invulgar.

Convento e reformatório

Depois de sair de Lisboa, Mercedes não sabia o que o pai lhe reservara. Supunha, talvez, que regressaria a casa, à severidade paterna, aos olhares decepcionados da mãe e dos oito irmãos. Mas não. Mercedes nunca mais voltou a pisar o palácio da família, no coração de Barcelona. Chegada de Portugal, foi fechada num convento, numa cela isolada. O Patronato de Protecção à Mulher queria avaliar os estragos: se estaria grávida, se mostrava indícios de arrependimento. Numa carta escrita a Oriol (mas só enviada mais tarde, porque no convento a correspondência era interdita) dizia: "Estou num convento pior que uma prisão. Não posso ler, escrever, não falo com ninguém."

Uma semana depois, Mercedes foi levada para o reformatório onde havia de ficar durante dois anos. Ali, dormia numa camarata com outras 40 mulheres, algumas prostitutas, outras órfãs, outras como ela, meninas de boas famílias a precisar de um "correctivo". Aprendeu os lavores necessários a qualquer mulher que se prezasse, viveu despojada da vida luxuosa em que sempre vivera, e escreveu largas, larguíssimas dezenas de cartas a Oriol Domènec. Os pais nunca a visitaram. E durante meses tentaram anular o casamento realizado em Lisboa. Sem sucesso.

O reencontro na Argentina

Pouco antes de fazer 25 anos, Mercedes teve ordem para sair do reformatório. No dia 30 de Janeiro de 1958, apanhou um avião para Madrid e, em seguida, outro para Buenos Aires. Dois anos depois do enlace em Lisboa, Mercedes e Oriol reencontravam-se na Argentina. "Nessa altura eu vivia mal, tinha uma barraca como as dos índios. Mas para ela estava sempre tudo bem. Sempre teve uma garra e um optimismo incríveis. Sempre foi brava. Uma brava mulher!"

O casal viveu então dez anos em Ushuaia, na Patagónia. Primeiro num casebre pobre, depois numa herdade de vários hectares com cavalos, vacas e ovelhas. Oriol ganhava fama e dinheiro. Era procurado por gentes pobres e endinheiradas, a sua reputação de bom médico galgava fronteiras. Mercedes trabalhou sempre com ele, ajudava nas cirurgias, tornou-se a enfermeira perfeita. Muitas vezes, enquanto ele andava de terra em terra a visitar doentes, Mercedes ficava sozinha numa casa completamente isolada. Os índios acos- tumaram-se a chamar-lhe "pistoleira" pela pressa com que pegava na arma para atemorizar qualquer estranho que aparecesse.

Um ano depois do reencontro, nasceu a primeira filha, com sete meses de gestação. Mónica não resistiu à prematuridade. O segundo filho, Ariel, também não sobreviveu mais que um ou dois meses, vítima da síndrome da morte súbita. Mercedes, profundamente católica, até podia ter acreditado em castigo divino. Mas não. "Era demasiado inteligente para isso. E optimista, sempre. Creio que nunca a vi chorar. Não. Em 50 anos , nunca vi a Mercedes chorar."

Por fim, nasceu Alex. E depois Ivo, Eva e Ulia. Hoje, o mais velho dos quatro filhos tem 46 anos, Ivo tem 44, Eva 35 e Ulia 33. Mercedes e Oriol têm cinco netos. Em Barcelona conhecemos Eva e os seus três filhos. Alex vive perto, Ulia está na Alemanha e Ivo ficou na Patagónia.

Dez anos depois do reencontro, dez anos depois do começo de vida na Patagónia, Mercedes e Oriol mudaram-se para Barcelona, onde vivem até hoje, numa casa do século XII, rodeada por um denso bosque. E até a casa parece saída de um filme, com um tesouro encontrado (e roubado) pelos homens que reconstruíram o soalho, e com túneis escavados por debaixo da casa (para poder fugir em caso de assalto).

Mercedes e Oriol casaram no dia 25 de Outubro de 1956, em Lisboa. Hoje faz 50 anos que o amor deles venceu todas as barreiras. Pela maneira como ainda se olham fica-se com a certeza de que valeu a pena. Mercedes não sabe mas Oriol vai oferecer-lhe um colar.

sexta-feira, 2 de março de 2007

O amor que a repressão não conseguiu dominar

em Diário de Notícias, 24 Outubro de 2006
I parte


"Não me arrependo, nem nunca me arrependi de nada. Voltaria a fazer tudo de novo. Tudo!" Mercedes Elizalde tem 73 anos e um olhar que diz muito sobre a sua garra. Amanhã completam-se 50 anos desde que casou, contra tudo e contra todos, com José Oriol Domènec. Por ele, fugiu da mansão paterna aos 23 anos, com uma trouxa feita com a colcha da sua cama. Por ele, deixou para trás o conforto e o luxo, atravessou um rio a nado, esteve presa em Caxias. Por culpa de um amor proibido, foi fechada pela própria família num convento e a seguir num reformatório para mulheres sem rumo. Hoje, os dois catalães seguram na mão um do outro e sabem que valeu a pena. E Oriol, emocionado, repete vezes e vezes sem conta: "É uma grande mulher. Uma brava mulher!"

Conheceram-se em 1952. Ele era um jovem médico, ela era uma "dama de la Cruz Roja" (voluntária da Cruz Vermelha). Um dia, coincidiram no mesmo hospital. "Eu tinha uma daquelas luzes na cabeça, como um mineiro, para ver os pacientes. Voltei-me de repente e a luz focou aquela rapariga. Pensei: 'Que linda mulher!' E, mais tarde, quando a voltei a encontrar, meti conversa."

Os dois namorados viram-se umas dez vezes, não mais. Quando percebeu de quem era filha, José Oriol soube que teriam problemas. Salvador Elizalde era um multimilionário, apoiante de Franco, que certamente não veria com bons olhos a relação da filha com um jovem revolucionário, que pendurava bandeiras de Barcelona e cartazes com palavras de ordem em diversos monumentos, e a quem tinha sido feito um conselho de guerra.

Fuga para Portugal

Obrigado a exilar-se na Argentina, Oriol continuou a corresponder-se com Mercedes. Conheciam-se mal, mas cada carta ajudava um a saber mais sobre o outro, e a paixão, em vez de esmorecer com a distância, crescia desmesuradamente. Da Argentina, Oriol seguiu para a Alemanha para fazer a especialização em Otorrinolaringologia. E, durante meses, os dois enamorados prepararam a fuga de Mercedes de casa, bem como a partida de ambos para a Argentina.

Encontrar-se-iam em Vigo. Ele vinha de barco da Alemanha, faria escala naquele porto, ela embarcaria, escondida, e partiriam rumo a uma vida nova na América do Sul. Mas as coisas não correram como planeado. Mercedes não apareceu. "Ainda hoje não sei bem porque foi que não veio. Durante 50 anos, nunca falámos desta aventura. Nunca. Ela sofreu demasiado e eu, com medo de a magoar, nunca lhe perguntei nada. Mas creio que estaria hesitante. Fugir era um passo de gigante para uma menina criada em berço de ouro."

Percebendo que Mercedes não vinha, José Oriol saiu do barco e acabou em terra, a vê-lo partir. Quando lhe ligou, Mercedes disse: "Dá-me 48 horas e estarei em Vigo."

"Vinha com uma trouxa enorme às costas. Nem se viam as pernas! Depois é que soube que tinha posto o máximo que tinha conseguido em cima da colcha da cama e, em seguida, amarrado tudo com um nó, como uma ciganita." Como o passaporte de Mercedes tinha sido confiscado pelo pai, não podiam apa- nhar um barco para a Argentina. Foi então que decidiram seguir para Portugal. Oriol já tinha estado junto ao rio Minho e sabia que o caudal permitia fazer a travessia praticamente a pé, com água pela cintura. Só que quando chegaram a água tinha subido e "o rio já não era um rio, era um mar!" José Oriol olhou para Mercedes e pensou desistir. Mas ela, com a força que sempre a caracterizou, não teve dúvidas: "É da maneira que nos refrescamos mais." Falamos do mês de Outubro de 1956.

Apanhados em Coimbra

Atravessaram o rio feito mar, ele primeiro, ela depois. Pararam em Valença do Minho, no Porto e em Coimbra, última paragem antes de serem apanhados. Nessa noite, estavam a dormir quando foram despertos pelas pancadas secas na porta: "Abram. Polícia."

Em Lisboa, foram interrogados por um capitão da polícia com fama de ser um duro. Mas o homem parecia demasiado incrédulo por ver de que modo os dois apaixonados eram perseguidos pelo influente pai dela. A sua dureza converteu-se em compaixão. Mas Mercedes era menor de idade (em Espanha a maioridade só se atingia, então, aos 25 anos) e o polícia era obrigado a cumprir a lei.

Na esquadra, apareceu também um alto representante do clero de Barcelona, enviado por Salvador Elizalde para meter juízo na cabeça da jovem. Falou-lhe de moral, de honra, da ameaça pendente do inferno. Mas, apesar de ser profundamente católica, Mercedes não parecia disposta a ceder. O capitão, incomodado com a pressão que os dois sofriam, chegou a discutir com o padre. Oriol não esquece as palavras do polícia: "Em Espanha ainda se vive na Idade Média?" Ao que o padre ripostou: "A moral e os bons costumes são intemporais!" Mercedes foi então levada para a prisão de Caxias.

Quando se viu a sós com José Oriol, o capitão da polícia deu-lhe a morada do escritório dos "melhores advogados de Lisboa". E perguntou: "Tens dinheiro?" Oriol tinha. Nessa manhã foi recebido por quatro advogados que lhe indicaram o que se seguiria: "Amanhã, às onze, vá à Igreja da Pena. O senhor e Mercedes vão casar." Como era possível que casassem se Mercedes estava presa? Que não se preocupasse. Só havia um detalhe que não podia esquecer. Antes das assinaturas tinham ambos de escrever: "FF". E tudo correria bem. O final desta história, porém, estava ainda longe de ser feliz como se querem os finais das histórias de amor.